Havia algo de misterioso no sorriso daquele homem,
trajando roupas coloridas e sapatos engraçados.
O homem pulava de um lado para outro,
tal qual macaco de galho em galho,
ocupando seu espaço no Largo da Carioca.
As pessoas à minha volta, principalmente os pequeninos,
riam histéricamente, da cena em que o pobre homem,
fingia uma alegria que não sentia.
Por detrás de tanta pintura, no rosto enrugado pelo tempo,
no íntimo do ser humano, que todos somos,
percebia-se um lamento de dor alucinante, o qual,
somente os mais sensíveis, detectavam.
Havia no chão, a minha frente, um chapéu preto surrado,
igual a cartola de mágico, com uma enorme flor amarela amassada,
onde percebi que, as pessoas colocavam moedas e notas pequenas.
O garoto que cuidava do chapéu, deveria ter uns oito anos, mais
ou menos, era magro que dava dó, muito pálido e,
tinha os grandes olhos azuis, marejados por um lamento de dor.
Pensei então, comigo mesmo:
-Porque esse menino está chorando,
se está com o chapéu quase cheio de gorjetas?
E foi então, que resolvi me aproximar do garoto,
para conversar e entender tudo aquilo.
Para minha surpresa, o garoto explicou
que era filho daquele homem,
que tanto fazia os transeuntes rirem e que,
tanto ele quanto o pai, estavam desolados pois,
o caçulinha da família, estava muito doente,
e o pai, desempregado, vestiu-se de palhaço
e foi para as ruas arrancar risadas do público que,
agradecido, deixava sempre,
uma esmolinha no velho chapéu.
E eu que, minutos atrás, pensava em qual carro novo
iria comprar, achando isso um dilema.
Envergonhado, tive vontade de sumir da face da Terra,
não me achei digno de Deus e, por um momento, confesso,
me senti pequeno.
Dei ao menino um cheque no valor de minha mesada naquele mês,
e me retirei pensando que, a vida tem dessas facetas.
Eu sabia que, no fundo, aquele sorriso nervoso escondia algo.
E pensar que, às vezes, nos queixamos
de coisas tão insignificantes!
Aquele pobre homem, na esperança de ajudar o filho doente,
engoliu a sua dor e foi para as ruas
arrancar risos da platéia,
que alheia à tudo isso, aplaudia o palhaço triste,
que sorria para não chorar!...
Simone Borba Pinheiro